PARQUES À BEIRA DA MARGINAL

Projetos paisagísticos e ambientais plantam mudas de árvores nativas às margens do Rio Pinheiros e transformam uma das vias expressas mais movimentadas de São Paulo

 

por: CONEXÃO GLOBAL

Um dos esforços mais radicais para a recuperação ambiental e paisagística da cidade de São Paulo segue de forma discreta, silenciosa e incansável à beira do conjunto de vias expressas junto ao Rio Pinheiros. Ali, estão sendo plantadas o que os especialistas em botânica definem como um conjunto de “mini-florestas Atlânticas” para resgatar uma área degradada por décadas de descaso e ocupação descontrolada. Batizado como Pomar Urbano o projeto teve sua etapa mais recente iniciada no ano passado e deve se estender até 2022. Ao todo, serão plantadas 30 000 mudas de espécies nativas em um parque linear de 13,5 quilômetros e 8 hectares de área. As plantas são cultivadas em um viveiro localizado no Parque Legado das Águas, na região do Vale do Ribeira, uma unidade privada de conservação de Mata Atlantica pertencente ao grupo Votorantim, gestora do projeto realizado nas áreas pertencentes à Empresa Metropolitana de Águas e Energia (Emae) e que tem entre os patrocinadores o complexo imobiliário Parque Global.

A primeira 
tentativa de resgatar as margens do Rio Pinheiros data de 1999, quando foi estabelecido o Projeto Pomar, programa realizado pelo Governo do Estado de São Paulo, com o apoio de parceiros públicos e privados. Na ocasião, as margens foram desocupadas dos matagais que as ocupavam, passaram por um processo de terraplanagem e plantio de várias espécies nativas e exóticas. Em sua versão mais recente, o foco está em reforçar a presença das espécies típicas da região – como  quaresmeiras, manacás, ipês, araucárias, cereja brasileira, palmito juçara, pitangueiras e jabuticabeiras.

É consenso 
entre especialistas que, além de resgatarem a paisagem natural, os projetos que valorizam espécies nativas são mais baratos e fáceis de se manter. Em geral, a maioria dos projetos paisagísticos e de arborização na cidade de São Paulo tomam como base espécies trazidas de fora. “Queremos não apenas resgatar a estética original do Rio Pinheiros, mas também oferecer uma combinação harmônica entre as espécies”, explica o botânico Ricardo Cardim, responsável pela seleção das espécies que vão compor o parque linear e parceiro no projeto do Parque Global. “As espécies escolhidas possibilitam menor manutenção, poda e rega. É justamente o contrário do que acontece em projetos onde se adotam plantas exóticas, que requerem um manejo bem mais intensivo”.

Na 
reconstituição ambiental, o Pomar Urbano levou em consideração o uso de espécies que favoreçam o retorno dos pássaros e propiciem conforto térmico. Para isso, se vale de espécies frutíferas nativas como o cambuci, uvaia, araçá, jaracatiá – que torna o local atraente para aves de passagem e ainda ofereça alternativa de alimentação a pequenos mamíferos. O trecho que atualmente está sendo recuperado pelo Pomar Urbano se conecta ecologicamente a outros fragmentos de mata nativa na cidade, como o Parque Burle Marx e a Reserva Panamby, vizinhas ao Parque Global. O empreendimento, que é  parte do grupo de empresas privadas que faz parte do Pomar Urbano destinará uma área de 22 000 metros quadrados ao plantio de espécies nativas da Mata Atlântica. É exatamente nesse ponto que se tornará um corredor aéreo ecológico, em que as aves também contribuirão para o controle natural de pragas. As mini-florestas poderão contribuir ainda em escala reduzida com a despoluição do rio, uma vez que as raízes das plantas filtram poluentes que se depositam no solo como os resíduos provenientes da queima de combustíveis fósseis pelos veículos, a chamada micropoluição.

Outra 
abordagem inovadora do Pomar Urbano é a utilização de mudas com etiquetas dotadas de um código QR. Esse recurso permite o monitoramento de todo seu ciclo de vida. Munidas de celulares, as equipes de monitoramento conseguem rastrear toda a história das árvores, inclusive a sua origem na floresta. Com isso, o plantio é otimizado, diminui-se a reposição de exemplares e garante-se a qualidade de produção de cada espécime despachado do viveiro localizado no interior do estado. “Nossa proposta é chamar a atenção para o rio Pinheiros, e incentivar ações individuais e coletivas que contribuam para tornar São Paulo mais humana e solidária”, afirma David Canassa, diretor da Votorantim responsável pela reserva Legado das Águas. Mais que um projeto único, o projeto adotado na Marginal Pinheiros é uma ideia que merece ser copiada e multiplicada.