OS HELICÓPTEROS DE AMANHÃ

Aparelhos elétricos com decolagem vertical e capacidade para até cinco passageiros deixam o mundo da ficção cientifica e prometem movimentar os helipontos de cidades congestionadas como São Paulo

por: CONEXÃO GLOBAL

No início do século passado, o brasileiro Alberto Santos-Dumont revolucionou o transporte aéreo, antes restrito a balões de ar quente ou gás hélio, ao voar em seu aeroplano motorizado 14-bis pelos céus de Paris. Agora, quase 120 anos depois da façanha do aviador, uma nova virada está prestes a balançar tanto o transporte aéreo quanto a mobilidade urbana.

Várias empresas dos Estados Unidos, da Europa e da Ásia já testam em estágio avançado veículos de pequeno porte, capazes de decolar e pousar na vertical, como helicópteros, mas que sejam mais seguros e baratos para os passageiros. E, mais importante, que não tenham necessidade de um piloto humano. Tais particularidades fizeram com que esses veículos inaugurassem uma nova categoria de meio de transporte batizada como UAM (a sigla em inglês para o termo Mobilidade Aérea Urbana). A Uber, por exemplo, quer disponibilizar um serviço de táxi-aéreo nesses aparelhos em Melbourne, na Austrália, nos próximos dois anos, e já há até perspectiva  do aplicativo de transporte trazer a novidade para São Paulo.

A gigante americana dos transportes já testa seu aparelho há três anos, mas há outras empresas na corrida para ver quem chega primeiro ao mercado com um serviço que promete ser revolucionário. A alemã Volocopter, por exemplo, já fez voos do modelo batizado como VoloCity para dois passageiros no ano passado. A aeronave tem uma estrutura similar a um helicóptero, com a diferença que é movida por um combinado de 18 rotores para facilitar as manobras.

A Lilium, também alemã, optou por colocar os motores que acionam o aparelho enfileirados nas asas. Depois da decolagem vertical, os rotores originalmente virados para cima fazem um giro noventa graus para frente e funcionam como os propulsores de um avião comum. As asas permitem uma significativa economia de energia, por isso os veículos têm uma autonomia maior: o modelo de cinco lugares percorre 300 quilômetros em uma hora. O plano da empresa é oferecer seus serviços em Nova York com voos entre Manhattan e o aeroporto internacional JFK dentro de 4 anos.

Apesar da concorrência aguerrida, especialistas no assunto apostam que quem será a vencedora da disputa pelo pioneirismo, será a empresa Kitty Hawk, pertencente a Larry Page, fundador do Google. A companhia nasceu de uma parceria com a Boeing para desenvolver um UAM de dois lugares com 12 rotores em cima da asa para as decolagens verticais, mas com um propulsor traseiro para impulsionar a aeronave adiante. A empresa já tem um acordo com a empresa aérea Air New Zealand para operar naquele país da Oceania, e aguarda certificação das autoridades locais para iniciar seus testes.

Embora os designs das aeronaves em teste variem muito entre si, há alguns pontos em comum entre os modelos. Todos usam motores elétricos e dependem de vários rotores para decolar e pousar na vertical, em contraste com o único motor a combustão do helicóptero. Os múltiplos rotores também facilitam o controle da máquina, o que significa mais estabilidade no voo e maior segurança também, uma vez que a falha em um dos motores pode ser compensada pelos outros.

Ainda assim, ninguém tem certeza de como funcionará o controle aéreo das cidades com a chegada dos UAM, por isso é bem possível que as máquinas estejam todas prontas e testadas, mas ainda passem um bom tempo no chão aguardando a autorização dos departamentos de controle aéreo e das prefeituras para voarem. Há um receio justificado de que a súbita chegada de centenas de UAMs  aos céus das cidades resulte em caos – basta lembrar a recente reação de várias prefeituras quando os patinetes elétricos viraram moda em todo o mundo.

Mas há ainda outros obstáculos à chegada desses táxis voadores. O primeiro diz respeito à infraestrutura: onde os UAMs vão pousar ou decolar? Será preciso encontrar locais para a construção desses pontos, chamados por especialistas de vertiportos, o que pode encarecer a operação a ponto de inviabilizá-la. O outro está ligado ao barulho provocado pelas máquinas. Ainda que os motores elétricos sejam muito mais silenciosos do que os de combustão, quem já viu um drone pequeno de perto sabe que ele faz um zunido perceptível e irritante. É provável que muita gente encare o ruído como o som do progresso, mas é uma questão sensível. O Concorde, avião supersônico que ia do Rio a Paris em 6 horas (um voo em outras aeronaves passava de 12 horas), foi proibido de operar em vários países justamente por ser uma fonte de poluição sonora.