O OUTRO LADO DO RIO

Cenário de um ambicioso processo de recuperação ambiental, o Rio Pinheiros acumula curiosidades históricas, geográficas e científicas que se misturam com o desenvolvimento da maior metrópole brasileira 

 

por: CONEXÃO GLOBAL

Entre todos os números e estatísticas que envolvem o rio Pinheiros, que corta parte das zonas sul e oeste de São Paulo, chama a atenção um dado compilado pelo Governo do Estado entre os dois primeiros meses de 2020. Nos dois primeiros meses do ano, foram retirados do rio 11 000 toneladas de resíduos, material suficiente para encher 32 000 caminhões basculantes. Essa operação gigantesca faz parte do mais recente esforço para a despoluição do rio empreendido por um grupo de empresas públicas e privadas.

Batizado como Novo Rio Pinheiros, o programa é ambicioso e planeja implantar interceptores, redes coletoras e ligações que elevarão o tratamento de resíduos dos atuais 4 600 litros por segundo para 7 400 litros por segundo até 2022. Além disso, o programa contemplará ações de revitalização das margens e educação ambiental da população que vive nos arredores dos córregos que compõem a bacia hidrográfica do Pinheiros.
 

Ao todo, cerca de 3,3 
milhões de pessoas serão beneficiadas diretamente pelo projeto, que promete mudar completamente o entorno do rio. A meta é reduzir os lançamentos em seus afluentes, melhorar a qualidade de águas e garantir sua integração a cidade. Por ser um rio urbano, a água não será potável, nem permitirá o uso recreativo. No entanto, espera-se uma considerável melhora na situação atual, permitindo a volta da vida aquática e o uso de suas margens pela população. A ideia é também captar investimentos privados, como a concessão do transporte hidroviário pelo rio para melhoria do tráfego na metrópole. 


Confira a seguir dez curiosidades sobre o projeto e o rio.

 

1. Operação limpeza 

Desde o fim de 2019, removeu-se um volume de resíduos do rio suficiente para encher 500 piscinas olímpicas, no maior processo de desassoreamento dos últimos cinco anos. Isso equivale ao volume de 1,2 milhão de metros cúbicos de material que será retirado apenas na primeira etapa do programa de despoluição atualmente em andamento.

 

2. Araucárias e palmeiras

Assim que chegaram às margens do rio, na região próxima ao que é hoje o Largo da Batata, em meados do século XVI, os jesuítas se impressionaram com a grande quantidade de araucárias (ou pinheiro do Paraná) que cresciam na área. Eram tantas árvores que decidiram batizar o rio como Pinheiros. O nome em português substituiu a denominação Jurubatuba, que significava “rio das palmeiras” em tupi guarani (hoje, apenas um trecho do rio leva esse nome). Na época, o rio era sinuoso e cercado por uma ampla várzea alagável, tomada por uma densa formação florestal composta por espécies típicas da Mata Atlântica, entre elas o pinheiro do paraná e a palmeira jerivá, origem do nome nativo.

 

3. Sonho antigo

O rio Pinheiros tem sido alvo de projetos de despoluição nas últimas duas décadas. Desde 1998, o rio é parte do Projeto Tietê, do qual ele é a afluente. Em 2000 foi inaugurado o Emissário Pinheiros-Leopoldina, uma tubulação com quase 3 metros de diâmetro e 7,5 quilômetros de extensão que recebe os efluentes de quase toda a bacia do rio Pinheiros para serem tratados na Estação de Barueri. Desde então o rio tem sido alvo de projetos que adotaram várias metodologias de despoluição até chegar ao que está atualmente em curso.

 

4. Um pomar nas margens

A densa vegetação que ocupa as margens do rio é resultado de um amplo programa iniciado em 1999 e que levou ao plantio de mais 300 000 mudas de plantas e árvores, nativas ou exóticas. Com 14 quilômetros de extensão, esse jardim linear conta ainda com mais de 1 000 palmeiras jerivá, espécie que no passado proliferava na região. A atual etapa do projeto, batizada como Pomar Urbano, promete plantar 30 000 arvores nativas nas marginais e tem o Parque Global como um dos seus patrocinadores.

 

5. Fauna urbana

Nos últimos anos, a vida tem recobrado seu espaço às margens das pistas expressas. Capivaras, gaviões, quero-queros, garças africanas, cobras e ratões do banhado voltaram a ser vistos ao longo do Rio Pinheiros, aumentando as esperanças de salvação do rio, futuramente.

 

6. Cenário modificado

No início do século XX, a paisagem em torno do rio começou a transformar-se em função das novas levas de imigrantes, principalmente italianos e japoneses, que vieram se instalar às margens do curso d’água. Nessa época, ainda abrigava em suas margens clubes esportivos como o Germânia (hoje Esporte Clube Pinheiros) com provas de travessia a nado e regatas náuticas. A partir dos anos 1920, foram iniciadas as obras de retificação do rio Pinheiros, que se estenderiam até os anos 1950 para aumentar a vazão do rio e diminuir os alagamentos nas margens. 

 

7. Os afluentes

O rio Pinheiros recebe quinze afluentes, com nascentes em três municípios (São Paulo, Taboão da Serra e Embu das Artes).

 

8. O começo

Na configuração retificada que conhecemos hoje, o rio nasce do encontro do rio Guarapiranga com o rio Jurubatuba, no bairro de Santo Amaro e desagua no rio Tietê, em meio às pontes e viadutos do complexo viário Cebolão. Essa configuração artificial é resultado da construção da represa Billings, na década de 1920, iniciativa que alterou o curso natural do rio e norteou a ocupação de suas margens.

 

9. As pistas

Desde 1970, as duas margens do rio foram ocupadas pelas marginais vias expressas de tráfego que isolaram o Pinheiros da população, antes mesmo de suas águas estarem poluídas. Hoje esse processo começa a ser revertido com a construção de ciclovias e áreas verdes junto ao rio.

 

10. Usinas pelo caminho 

O projeto de retificação do Pinheiros, na década de 1920, incluía uma usina que não só era capaz de gerar energia como também inverter o curso do rio pelo bombeamento contínuo. O objetivo era que a água do trecho metropolitano do Tietê fosse desviada pelo Pinheiros para abastecer a Represa Billings. Batizada como Usina Elevatória de Traição, a unidade ajudava a abastecer o reservatório destinado à Usina Hidrelétrica Henry Borden, em Cubatão, que aproveitava o grande desnível da serra do Mar, de mais de setecentos metros, para gerar energia elétrica. Hoje, tal recurso não é mais utilizado e a inversão do curso do rio só é permitida sob chuva intensa, quando há perigo de enchente.